quinta-feira, 10 de abril de 2014

Imprevisível Amanhã



Sou um acostumado de cara tapada, a rotina matou-me nesta grande fila até à bilheteira da felicidade. Posso sim, desta forma, considerar-me um falhado que nunca um grande falhado, mas um falhado na sorte que não tive como viver. Eu consigo sentar-me em qualquer cadeira, de madeira, de ferro, de plástico, fria ou quente, e relembrar todos os pormenores, todo puzzle desde a peça número 1 até me perder na história, no seu significado, no sentimento. Tomará que o vento me empurra-se até ao largo dos desejos realizados. Tomará eu ser capaz de assumir as oportunidades que me são dadas, sem ter de me questionar, sem ter de me pôr nem à frente nem atrás do rapaz que sou. Como podemos nós ser tão complicados ao ponto de achar que tudo é tão simples como aparentemente é pelo mundo apaixonado fora?
O meu orgulho cresce e diminui dentro de mim mesmo com frequência, sobe quando me sinto feliz ao nadar nos bons momentos que relembro, ou de repente diminui quando vivo o momento em que me encontro, que é sempre tão triste. Há momentos em que percebo e assumo a ferida que dói, outros em que limito-me à cicatriz que escondo. Na verdade, está muito longe de ser uma cicatriz, é mais fácil descrever como um episódio que exige respeito tendo em conta o meu ser,  um período marcado como possivelmente longo e imprevisível. Antes pudesse eu pagar de outra forma, perco horas e horas de vida a ouvir dizer, por vozes não mais do que minhas, o que pode me ressuscitar sem tirar nem pôr mais do que as palavras. Errado, perco horas a tentar encontrar veracidade nas palavras que eu sempre quis ouvir de mim mesmo, elas cruzam-se, confundem-se, misturam-se, acabam por na sua junção não fazerem qualquer sentido. Quando o objectivo é encorajar até ao que mais quero na vida, acabam por ter o efeito exactamente contrário, e morro de novo.

Tomará que fosse possível cair fora deste ano, viajar, entregar-me ao tempo e forçar-me ao esquecimento do meu lado ferido. Já não há perdão. Já não há espera. Já não há dois dias. Já não há pintura. Já não há desenho. Já não há quedas para abafar silêncios, faz tanto barulho em tal mente perturbada, tanto, que já não há solução para além de  manter a poção capaz de me adormecer o mais tempo possível.
Eu espero, já muito cansado mas esperançoso, pelo dia em que vá encontrar a minha arma para esta longa batalha que se prossegue.

sábado, 5 de abril de 2014

Quem sou eu?



Afinal quem sou eu?
Rasgo folhas onde mais tarde sei que vou querer escrever. Risco linhas onde sei que vou querer sublinhar. Fujo do ar que me mantêm vivo, porque esse mesmo mata-me.

Sou o meu próprio monstro, o meu próprio inferno, o meu próprio desgaste, o meu próprio sufoco, a minha própria dor... 
O que faço eu por aqui?
Pinto vazios, inspiro desconforto e expulso a minha vida. Fecho as portas às acaricias e abro caminho até aquela montanha mais afastada da humanidade, até ao ponto mais alto, mais longe de tudo e de todos.
Lei-o o que me aterroriza e morro. Morro aqui, ali, agora ou daqui a pouco, e não renasço. Quando aparentemente estou viver, estou simplesmente a viver do que foi aparente, porque vem-me buscar de novo.... Leva-me para os caminhos escuros, leva-me de volta para o nada, mais uma vez. 
Renascer é o objectivo, mesmo que seja incompreensível para o mundo, mas renascer é o objectivo. Embora o preço a pagar seja sempre tão alto, tão alto, tão alto. 
Apetece-me entrar num barco, e remar, remar sem orientação. Remar, para longe daqui. Enfrentar os riscos e as fortes correntes do mar. Perder mais a noção da realidade, e viajar, perceber a que mundo pertenço eu. Faz tanto frio, tanto frio cá fora e cá dentro. Estou congelado.
Tenho tanto medo de perder na vida, como de esperar por aquele rapaz que, possivelmente, já  não sou mais.