domingo, 23 de junho de 2019

O que dizem os nossos olhos que ninguém consegue ler?
O acto mais profundo é onde depositamos todo o nosso honesto e fiel sentimento, onde colorificamos a nossa essência e transforma mos numa nuvem de emoção e de sentimento. Para mim, o inferno não é só o não ser suficientemente bom para fazermos parte de quem queremos , mas é sim saber que não há forma de o ser para conseguir o que pretendemos. É crucificante saber que há um limite, saber que não é possível ir além. Quando chegamos a esse determinado ponto, surge uma sucessão de despedidas entre o nosso coração e a mente, porque todas as vezes que acontece, o nosso coração fica mais pequeno. Não é fácil de o transmitir, e é muito difícil fazer com que o silêncio compense.

sábado, 15 de junho de 2019

Folhas de Espeto

Da minha árvore da sobrevivência caem folhas de espeto incontáveis, o suficiente para formar um labirinto obscuro. Cada picada trás uma descodificação, um significado inviável, uma revolta e/ou talvez um conselho sem certificado. Nós, pessoas da melancolia persistente, arranjamos sempre uma forma de ir além do acaso, acabamos sempre por vestir umas mangas de psicanálise e tentar interpretar. As transições de emoção ganham paredes e teto, quando consigo fechar bem os olhos e deixar que o sangue provocado pelas folhas sozinho a traduza, traduza a magoa que escorre. Os rasgos que a natureza desenha na alma é mais penoso que aqueles que jamais alguém conseguirá desenhar. Talvez seja por ai que descobri o porquê de ser tão difícil de receber folhas de castigo, o porquê de as folhas serem tão rijas e a vida tão exigente, o porquê de ser tão difícil de sobreviver na sombra da tua própria planta, essa que ao longo da tua dependência formas te, e com tão bom e honesto coração (...) Quando faço este género de reflexões, que nem sempre é um exercício tão simples quanto estou a fazer parecer, há um ponto do qual eu não me livro, que é quando o relógio retrocede e imite sons e dezenas de imagens projetadas recordativas... Ai sim, concluo que era relativamente feliz antes de a plantar e não sabia. Isto da felicidade é relativo, claro, qual é o limite minimo ou máximo da felicidade? Pois bem, eu simplesmente não sabia a sorte que tinha em não analisar árvores, muito menos o que elas dão, não sabia a sorte que tinha em ter tudo para crescer diferente e poder ser aquilo que não sou. Sinto ingratidão comigo mesmo, que pesa dezenas de sofrimento dentro dos dias mais positivos até. Tudo deve-se às doses de acontecimentos excessivas diariamente consumidas, doses que calculadamente, após cada combate, finalizam me sempre ao fim do dia com uma obesidade depressiva. Todas estas lutas desde então, são apenas umas quantas tentativas de curar metafórica-mente a sede de viver, no entanto, custa a perceber o porquê de ir beber do rio, quando o mar está tão perto. Este, é apenas mais um desfecho diário, posso atrever me a dizer que somos instantes e num instante já não somos nada, não podemos perder a noção de quando o vento surge antecipado, ou que se antecipe, temos de saber onde podemos plantar a nossa vida, analisar a nossa própria criação, os nossos planos de futuro, tudo sem que ela, a nossa árvore, tenha oportunidade sequer de cuspir folhas, quanto mais rasgar a pele que nos protege, e ficarmos indefesos e sem poder reagir, sem poder de manifestação. Sei que é um tropeço aparecer e desaparecer, com tanto por falar e estar calado. Com toda certeza a minha consciência diz-me que 80% dos meus gritos são o silêncio, e isso não cura, nem descura, apenas dói, dói um pouco mais só, mas tem que ser? Como não o ser? Somos uma espécie muito complexa, em que dentro da nossa espécie, somos todos de uma espécie diferente, personalidades/identidades diferentes, não nos percebe mos todos uns aos outros e nem sequer queremos que assim seja, porque só isso gere o limite dos afetos, o que nos move e motiva. Não podemos exigir que qualquer pessoa compreenda o sufoco de alguém, ou que leia o que os teus olhos dizem, em contrapartida, não deveria ser tão tendencioso esconder o que carregamos de forma quase profissional, e adaptar o estado de humor ao que a comunidade exige, não devia. A verdade, e para finalizar, é que somos aquilo que fazemos, somos o que dizemos, somos o que pensamos, mas somos mais ainda aquilo que sentimos, e isso alguém pode alimentar ou destruir, mas ninguém te tira a essência.