sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

O impagável

 A história de um romance pode iniciar com duas pessoas a olhar o mar, atravessar o rio de barco, a ver um filme no cinema, pode até ser um passeio pela natureza... pois bem, a nossa começou sobre duas rodas. Poderia fazer sentido de outra forma? Nem eu, nem tu, nem ninguém o imaginaria em tempos, mas não, não podia. De olhar fixo, a contar segundos e a rasgar horizontes, dei por mim longe de casa a realizar o maior dos meus sonhos enquanto percorria quilómetros intermináveis. Cento e trinta e dois dias depois, a visão que tenho sobre esse dia vai muito para lá de inspiradora, de reconfortante, de agradecimento e felicidade. Ja lá vão alguns anos na luta a um, comigo mesmo, contra o relógio e na persistência dia pós dia. Os dias que passei sem luz e as muitas, muitas noites que passei tão claras. É por ai que começa a minha felicidade, em duas rodas, a desfrutar de uma paixão que nasceu comigo, de sentir a liberdade, de expressar os meus sentimentos sem precisar de soletrar nem uma letra que seja. Este é o sentimento que duas rodas e um motor pode trazer à vida de alguém, o prazer de deslocação, o sentimento de liberdade, a terapia mais leve e divertida de sempre.

Assim renasci eu de uma vida cansada, de massacre psicológico e dos quimicos medicinais. Sobre duas rodas aprendi a levar o mundo comigo para qualquer lado, e a encarar cada curva como uma vitória e não uma escapatória, e isso é impagável.
Pois bem, depois de tudo isto já escrito, começa a ficar mais evidente o porquê de não fazer sentido de outra forma. A minha recuperação, o meu lugar preferido até então, levou me a percorrer cento e quarenta mil metros de alcatrão, até à melhor surpresa de sempre. Assim iniciou uma história de amor, com muitos quilómetros e zero obstáculos.
Às tantas os dias ganharam outro ânimo, as tarefas transformaram se em realização e o futuro em objetivos. Falo numa reviravolta, um balde de agua quente sobre o gelo destes anos, uma prenda boa, um sorriso verdadeiro, um coração vivo.
Não há melhor forma de fechar o ano, com vontade de abrir outros tantos, embora sem pressas, sem tropeçar nos próprios pés como se de uma tempestade estivessemos a sair. O sabor do presente, da saúde, do conforto e da paz, acelera o relogio mas acalma o coração, e de que maneira. Demasiado grato por ter conhecido alguém capaz de assumir a loucura a dois naquele primeiro dia, e hoje continuar a seguir viagem comigo pelo mundo fora. Se tantas foram as horas contadas sem adormecer, a escrever e a planear o mundo, posso agora dizer, com muita satisfação e orgulho... hoje faço os melhores planos de sempre, e mais importante que isso, é que a minha mulher faz sempre parte deles. Obrigado por toda cor que trouxeste ao meu mundo. Amote ♥️. 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

REFÉM DO DESGOSTO

 Dá um aperto no coração ter presente a instabilidade do futuro, de ser refém do desgosto, ser um alvo fácil do arrependimento e da dor inconsolável. Nas inpurezas da vida, que podemos e devemos dizer que existem, estão os excertos do dia... já nos afectos está a essência de tudo. A vida pode ser traição, porque de tanto que fazemos numa tentativa de ser justos e bons para nós, seremos sempre julgados, pela vida, pelo único julgamento que ninguém pode contrariar. Ao abrir e fechar o dia, ao adormecer e ao acordar, é quando a nossa mente faz mais barulho, é mais intensa e possuidora, é como quem tira a capa e fica sem resultado, ou indeciso entre o ganhar e perder com um arrasto de tecnicas de auto distração ao longo dia...e isso dói, o que tiver de doer, vai doer. Honestamente, acredito que a consciência é cem por cento baseada no sentimento, que é o que nos move, o que move tudo e todos, e através do propósito de ser feliz e fazer feliz todas as pessoas que gostamos, é importante saber manter as purezas explicitas... é fundamental ter as respostas. O que será de um coração sem respostas? O que será de um coração arrependido por perder alguém que ama sem que pudesse fazer parte das suas ultimas recordações? de costas viradas?

É uma reflexão que fazemos poucas vezes na vida, mas uma certeza eu tenho, nenhum desentendimento justificará uma dor de perda sem paz. 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Mão Cheia

 Faz hoje uma mão cheia de meses que escrevia sobre o dia negro, que o desenhava em letras. Neste momento, com um pesar resultante de uns dias mais cansativos,  vejo que é absolutamente fascinante o quão diferentes emoções podem provocar, as mesmas palavras, escritas por nós, no espaço de meio ano. 

Lá no fundo, no último degrau de madeira, com os pés já na areia e ouvir o mar que quase não via com tanta escuridão, prometi a mim mesmo que iria escrever até sentir me melhor comigo mesmo, naquela noite, ia fazê lo até sentir que já compreendia um pouco melhor o que estava acontecer comigo, sem grandes restrições, sem grandes rodeios. A verdade é que hoje, poderia parecer exagerado o que eu escrevi, mas não é... Poderia parecer imaturo, mas não é. Saber ver o lado bom, é a parte mais interessante desta retro perspectiva, contudo eu continuo a pôr o lado consciente na linha da frente. Quero com isto dizer, que fico contente comigo por saber aceitar que perdi, por entender o que perdi e quando o perdi, e mais importante, o que ganhei com isso. Sem rodeios, foi o amor próprio que me trouxe aqui, foi esse o resultado de um acto consciente, de uma tristeza arrastada até sempre, foi esse. O que trago dessa noite, do dia mais triste, é um pouco de dor, um pouco de escuridão, um pouco de frio, vazio e um pouco de orgulho. Os maus momentos vão pesar sempre que a vida encostar nos à parede, porque eles são feitos sempre das pessoas que mais gostamos, e essas pessoas, nunca saíram da nossa história. Sinto que é normal isso acontecer, passem cinco meses, passem cinco anos. Agradecido por ter feito o caminho como fiz, ter escalado sem olhar para nada além do que estava à minha frente, especialmente por estar cá a fazer esta análise só porque estou um pouco desgastado. Sofrer o passado faz parte do que somos, o importante é saber aceita lo, é saber continuar a luta pelo bem estar e objetivos.